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 Para que este fim-de-semana seja de reflexão e mudança (para melhor) deixo convosco um conto especial. Sintam-no e... bom fim-de-semana! (Se conseguirem... hehe!)

 

 

Beijos.

 

Maria Lua

 

 

  Enterro do "Não consigo

 

"Francisco era supervisor e incentivador dos seminários que eram realizados numa escola primária e um dia viveu uma experiência muito instrutiva, conforme ele mesmo narrou:

 

 

-Sentei-me num lugar vazio no fundo da sala e assisti. Todos os alunos estavam ocupados, preenchendo uma folha de caderno com ideias e pensamentos. Um aluno de dez anos, (o mais próximo de mm) estava a encher a folha de "não consigos".

 

 

"Não consigo jogar à bola como gostava." "Não consigo fazer divisões longas com mais de três números." "Não consigo fazer com que a professora goste de mim" etc.

 

 

 Caminhei pela sala e notei que todos estavam a escrever o que não conseguiam fazer. "Não consigo fazer dez flexões." "Não consigo comer um biscoito só." Nesta altura, a actividade já despertara a minha curiosidade, e decidi perguntar à professora o que estava a  acontecer e percebi que ela também estava ocupada a escrever uma lista de "não consigos".

 

 

 Frustrado nos meus esforços em determinar porque é que os alunos estavam a trabalhar com aquelas palavras negativas, em vez de escrever frases positivas, voltei para o meu lugar e continuei as minhas observações.

 

 

Os estudantes escreveram por mais dez minutos. A maioria encheu a página. Alguns começaram outra. Depois de algum tempo os alunos foram instruídos a dobrar as folhas ao meio e a colocá-las numa caixa de sapatos, vazia, que estava sobre a mesa da professora. Quando todos os alunos haviam colocado as folhas na caixa, A professora Débora acrescentou as suas, tampou a caixa, colocou-a debaixo do braço e saiu pela porta do corredor. Os alunos seguiram-na. E eu segui os alunos.

 

 Mais à frente a professora entrou na sala do jardineiro e saiu de lá com uma pá. Depois seguiu para o pátio da escola, conduzindo os alunos até ao canto mais distante do recreio. Ali começaram a cavar. Iam enterrar os seus "não consigo"!

 

 

Quando a escavação terminou, a caixa de "não consigos" foi depositada no fundo e rapidamente coberta com terra. Trinta e uma crianças de dez e onze anos permaneceram de pé, em torno da sepultura recém cavada.

 

 Débora então proferiu os louvores. "Amigos, estamos aqui reunidos hoje para honrar a memória do não consigo. Enquanto esteve connosco aqui na Terra, ele tocou nas vidas de todos nós, de alguns mais do que de outros. O seu nome, infelizmente, foi mencionado em cada instituição pública, escolas, câmaras, assembleias legislativas e até mesmo na assembleia da república. Providenciamos um lugar para o seu descanso final e uma lápide que contém o seu epitáfio. Ele vive na memória dos seus irmãos e irmãs eu consigo, eu vou e eu vou imediatamente. Que o não consigo possa descansar em paz e que todos os presentes possam retomar as suas vidas e ir em frente na sua ausência. Amem."

 

 

Ao escutar as orações entendi que aqueles alunos jamais esqueceriam a lição. A actividade era simbólica: uma metáfora de vida. O "não consigo" estava enterrado para sempre.

 

 Logo após, a sábia professora encaminhou os alunos de regresso à classe e promoveu uma festa. Como parte da celebração, Débora recortou uma grande lápide de cartão e escreveu as palavras "não consigo" no topo, "descanse em paz" no centro, e a data por baixo.

 

 A lápide de papel ficou pendurada na sala de aula de Débora durante o resto do ano. Nas raras ocasiões em que um aluno se esquecia e dizia "não consigo", Débora simplesmente apontava o cartaz descanse em paz. O aluno então se lembrava que "não consigo" estava morto e reformulava a frase.

 

Eu não era aluno de Débora. Ela era minha aluna. Ainda assim, naquele dia aprendi uma lição duradoura com ela. Agora, anos depois, sempre que ouço a frase "não consigo", vejo imagens daquele funeral da quarta classe. Como os alunos, eu também me lembro de que "não consigo" está morto".

 

 

 

 

 

publicado por MariaLua às 14:12