Posto hoje um conto de Ana Telma Botas que achei magnifico.

Maria Lua

 

 

 

“Numa aldeia perdida de searas despenteadas vivia a avó Chica, que contava histórias maravilhosas como a da Mariana e do Gonçalo.

 - Marianaaa! Vá lá, corre! Não se sejas molengona! - Oh Gonçalo! Já não aguento mais! - Vais ver que vale a pena! - Disse o Gonçalo com um grande sorriso. O Gonçalo era um menino que vivia na aldeia e ia mostrar o mar à Mariana. A Mariana vivia no interior e nunca tinha visto o mar. - Mariana, este é o mar. Mar, esta é a minha amiga Mariana. - Apresentou o Gonçalo. - Muito prazer! - Respondeu o mar. A Mariana sorriu e abraçou o mar. O mar riu-se e os dois brincaram tarde fora. Eles eram verdadeiros amigos porque conheciam as mãos e o coração um do outro de cor e salteado. Quando a noite caiu, os anjos vieram para iluminar o céu. Sim! Porque naquele tempo não havia estrelas no céu. Existiam anjos de bochechas redondas e pijamas cor de arco-íris. Os anjos iluminavam o céu de noite e durante o dia espalhavam pós amarelos, de alegria, para que as pessoas pudessem viver muito felizes. Porém, o vento do norte estava furioso. - Não pode ser! - Disse o Vento do Norte batendo com a mão na mesa de pedra! - Todos são felizes! As crianças brincam contentes! Tenho de fazer alguma coisa má! Os anjos sempre impediram que o Vento do Norte roubasse os sonhos dos Homens, mas naquela noite ele teve uma ideia horrível e má. Tão má, tão má que fez tremer a neve do Pólo Norte. Assim, reuniu todos os lápis cinzentos do mundo, afiou-os, esmagou os bicos, transformou-os em pó e engoliu-o. Levantou-se contente e começou a voar pelo mundo cuspindo os pós cinzentos. De repente, os anjos começaram a tossir. Tentaram fabricar mais pós amarelos, mas a tosse era tanta, que não conseguiam. Estavam a ficar sem forças, as suas mãos paralisaram e começaram a cair do céu. - Os anjos estão a morrer! - Exclamaram os meninos assustados. Eles abriram as suas mãos para apanhar os anjos e abraçaram-nos com ternura, mas as suas mãos, ao contrário dos seus corações, eram demasiado pequenas para os muitos anjos que caíam do céu. Os pássaros vermelhos da aldeia da Mariana foram levar-lhes notícias. - Mariana! Bah. Bah. Os Homens estão a travar batalhas horríveis por todo o mundo! Bah! Bah! - As crianças, Bah, já não sorriem, Bah. Ninguém sonha, Mariana! Bah, O Vento do Norte roubou os sonhos todos. Entretanto, os Cinco Oceanos da Terra reuniram-se para descobrir uma maneira de ajudar os anjos. Eles ergueram-se e fizeram a mais delicada das ondas percorrer a Terra para guardar os anjos doentes. Ao caírem naquela onda os anjos ficaram quentes e fofos e transformaram-se em estrelas-do-mar. Os Homens continuavam a lutar, mas os Oceanos nada mais podiam fazer. - A única maneira de salvar o Mundo é pintá-lo de volta disse o mar com voz triste. - Gonçalo, tive uma ideia! - Exclamou a Mariana. - Pássaros vermelhos peçam ao avô para juntar todas as cores do mundo, moê-las e depois espalhem os pós coloridos por toda a parte. - Podem contar connosco! Bah! - Mariana! O Mundo continua sem luz! O que podemos fazer? E o mar das profundezas da sua sabedoria respondeu: - As lutas só vão acabar quando os Homens voltarem a sonhar. É que cada anjo representava um sonho de um Homem. Não existindo anjos, não há coisas bonitas. É preciso um desejo muito grande para eles voltarem a viver. - Mariana! Vai chamar todos os meus amigos. Vamos todos desejar por cada anjo que caiu do céu! Disse Gonçalo. E assim foi. Quando a Mariana chegou à praia com os amigos encontrou algumas estrelas no céu. O Gonçalo pedia um desejo a uma estrela-do-mar e ela transformava-se numa estrela do céu. Todos pediram desejos e trabalharam em conjunto durante dias. Depois, deram as mãos e desejaram com muita força. Desse desejo nasceu uma estrela brilhante e luminosa a que eles chamaram Sol. Porém, não conseguiram salvar os sonhos de todos os Homens. Há ainda, espalhadas pelos Cinco Oceanos, muitas estrelas-do-mar à espera de serem desejadas”.

publicado por MariaLua às 12:43