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Era uma vez um lugar qualquer, um reino imaginado (...) Nele vivia um mágico, grande, nobre e bondoso... com todos os atributos normalmente existentes nos livros infantis... mas apesar de ser tão bondoso, não tinha ninguém com quem dividir isso... não tinha ninguém a quem pudesse dedicar a sua afeição, ou pensar nele... também ele precisava de se sentir querido, pois é muito triste estar-se sozinho. Precisava de um amigo. O que deveria fazer? Pensou que talvez pudesse fazer uma pedra, uma bem pequenina, mas bela, e talvez fosse essa a resposta. "Eu vou acariciar a pedra e sentir que existe alguma coisa constantemente ao meu lado, e iremos sentir-nos bem os dois, pois é muito triste estar-se sozinho". Agitou a sua varinha mágica, e num instante apareceu uma pedra, exactamente como ele queria. Começou a acariciá-la e a abraçá-la, mas a pedra não respondeu. Permaneceu fria, sem reagir. A pedra permanecia sempre aquele objecto sem sentimentos, fizesse-lhe ele o que fizesse. Isto não agradou ao mágico. Como podia a pedra não lhe responder? Tentou criar mais algumas pedras: rochas, colinas, montanhas, solo, a Terra, a Lua e a Galáxia. Mas elas eram todas iguais... nada! Sentiu-se triste e completamente sozinho. Na sua tristeza, pensou que em vez de pedras, poderia criar uma planta que iria florescer muito bela. Ele iria dar-lhe água, algum ar, algum sol, e tocar música para ela... e a planta iria ser feliz. E então ambos ficariam contentes, pois é muito triste estar-se sozinho. Agitou a sua varinha mágica, e num instante apareceu uma planta, exactamente como ele queria. Ele ficou feliz, tão feliz que começou a dançar à sua volta, mas a planta não se movia; ela não dançava com ele ou seguia seus movimentos. Ela só respondia ao que o mágico lhe dava nos mais simples termos. Se ele lhe dava água, ela crescia, e se ele não o fazia, ela morria. Isso não era suficiente para um mágico tão bondoso, que queria dar todo o seu coração. Tinha que fazer algo mais, pois é muito triste estar-se sozinho. Criou então todos os tipos de plantas, de todos os tamanhos possíveis, campos, florestas, pomares, plantações e bosques. Mas todos eles se comportavam da mesma forma que a primeira planta. E novamente ele ficou sozinho com a sua tristeza. O mágico pensou e pensou. Que deveria fazer? Criar um animal! Que tipo de animal? Um cão? Sim, um belo e pequeno cão que estaria constantemente ao seu lado. Ele leva-lo-ia a passear, e o cão iria pular, saltar e correr junto dele. Quando ele voltasse ao seu castelo, o cão estaria tão agradecido em vê-lo, que iria a correr saudá-lo. E ambos então seriam felizes, pois é muito triste estar-se sozinho. Agitou a sua varinha mágica, e num instante havia lá um cão, exactamente como que ele queria. Ele começou a cuidar do cão, alimentou-o, deu-lhe de beber, e acariciou-o. Mas o amor de um cão resume-se a estar perto do seu dono, onde quer que ele esteja. O mágico ficou triste em ver que o cão não podia retribuir completamente os seus sentimentos, mesmo brincando com ele tão agradavelmente, ou que o levasse a todos os lugares. O cão não podia ser seu verdadeiro amigo, não podia apreciar aquilo que ele fazia por ele, não compreendia os seus pensamentos, desejos e quanto trabalho isso tudo lhe deu. Mas era isso que o mágico queria. Fez então outras criaturas: peixes, aves, mamíferos, porém tudo em vão pois nenhum deles o entendia. Era muito triste estar sozinho. O mágico sentou-se e pensou. Então compreendeu que, para ter um verdadeiro amigo, deveria ser alguém que o procurasse, que o estimasse, e que fosse como ele: capaz de SENTIR e entender como ele, sendo seu companheiro. Teria de ser alguém que estivesse próximo dele, que entendesse o que ele lhe dava, e que pudesse retribuir todas as suas dádivas. O Mágico queria ser compreendido. E ambos então seriam felizes. O mágico pensou então em criar o homem. Ele poderia ser seu verdadeiro amigo! Ele poderia ser como ele... aí, os dois iriam sentir-se bem, mas para que eles se sentissem bem, ele primeiramente teria que sentir-se só, teria de estar sozinho. O mágico agitou a sua varinha mágica novamente, e fez um homem, distantemente. Mas o homem não conseguiu “ver” o mágico, e este por outro lado, continuou a sentir-se triste por estar sozinho. O homem nem sabia que o mágico existia, e que ele o havia inventado e que estava à sua espera, para que juntos e amigos pudessem sentir-se bem, pois é muito triste estar-se sozinho. Mas como iria o homem, que estava contente, que tinha tudo, até um computador e uma bola de futebol, e que não conhecia o mágico, querer vê-lo, conhecê-lo, aproximar-se dele, e ser seu amigo? Então o mágico agitou a sua varinha mais uma vez, e o homem o sentiu pela primeira vez a solidão. Mais um agitar da varinha mágica, e o homem sentiu que precisava de um amigo. Mas como poderia ele alcançá-lo? Qual é o caminho? Perguntou a si mesmo contrariado e confuso. E continuou a sentir o toque da varinha no seu coração, e não pode dormir. Via constantemente mágicos e torres mágicas de amizade, e não conseguia sequer comer. Isso é o que acontece quando uma pessoa quer algo muito intensamente, e não consegue encontrá-la. Mas para sentir como o mágico: sábio, grande, nobre, bondoso, e amigo, um agitar de varinha não era suficiente; o homem precisava aprender a fazer milagres por si só. Um dia o mágico e o homem conheceram-se. Então, o mágico, secreta e subtilmente, mostrou-lhe o caminho até à Torre Mágica da amizade. Mas porque sempre vivera de coisas materiais, o homem não sentiu para ele o mágico era apenas mais um mágico Os encontros sucederam-se e com o tempo o homem compreendeu que para se ser amigo existe uma palavra mágica: «CATIVAR». Só que essa palavra tem a forma de um muro muito alto à volta da torre, e ultrapassa-lo é difícil. E então, o homem começou pouco a pouco a tentar subi-la (claro que o mágico nesta altura lhe começou a dificultar a subida pois não queria estar com alguém que não fosse mesmo AMIGO) Um dia quando o homem não podia mais suportar estar sem ele, os portões da torre abriram-se. Mágico e homem tornaram-se amigos de verdade, e não há prazer maior que aquele entre amigos. Conta a lenda que hoje passados muitos anos e já muito velhinhos sentem-se tão bem juntos, que jamais se lembram, nem ocasionalmente, o quão triste foi estar sozinho...

 

Rav Michael (adaptação)

publicado por MariaLua às 22:01