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Era uma tarde quente. O verão aproximava-se do fim. Marinela tinha acabado de chegar, sentia-se cansada. Da cidade onde vivia, ao monte onde viera passar alguns dias para descansar, eram muitos quilómetros. Depois de tomar algum alimento, ia-se deitar. Queria levantar-se cedo no dia seguinte, para ver nascer o sol, há quanto tempo isso não acontecia... Sentiu desejo de arrancar a máscara que era obrigada a usar durante todo o ano e que a impossibilitava de sonhar... Ali longe do bulício da cidade, das noticias sobre a guerra do Iraque e outras guerras... do anseio de pais sem meios para cuidar da saúde dos filhos... Aquela última semana tinha-a deixado em baixo, sentia-se impotente, sozinha...Que poderia fazer? Tinha vindo para o sítio, onde desde muito nova costumava passar férias com a sua família. Estava tudo igual. O mesmo som da água que corria duma pequena fonte que havia no vale, o canto dos pardais, o cheiro forte a plantas. Era o Alentejo...Sonhava... Recuando no tempo sentia-se a "retouçar" com os irmãos, à sombra das árvores jogando à cabra cega. Despertou do sonho ao ouvir uma voz que perguntava: - Então Marinela chegaste primeiro. Estás bem? - Sim tia estou bem. - Respondeu esta. Tinha acabado de chegar a tia Oliana. Era a dona da casa onde Marinela se tinha refugiado dos seus fantasmas. A velha senhora tinha passado uns dias fora. Combinara com a sobrinha, que esperava quem chegasse primeiro ao monte. Dona Oliana reparara que a sobrinha não estava bem, andava triste. Esta não tinha tido sorte com o marido que escolhera. Estava ainda sob o efeito dum divórcio recente. - Então rapariga, que desanimo é esse? Que é feito duma jovem sonhadora que um dia daqui partiu? - Não sou a mesma tia Oliana, o tempo gasta-nos, não podemos ficar alheios ao que nos rodeia. - Sim a vida não é fácil. Há guerra, injustiça, mas melhoram com o nosso desânimo? O que te vou dizer é fruto da minha experiência, duma sabedoria que se ganha com a dureza da vida. Também eu fui um dia uma jovem sonhadora... Hoje não sou mais uma jovem, mas tento não deixar de sonhar... - Diga tia Oliana gosto de a ouvir. Dá-me força. - Quantas contrariedades já passei...Quanto já sofri... Quando o Jacinto partiu para o estrangeiro, também eu fiquei desanimada, nada valia a pena. Era o meu único filho que partia...Depois de algum tempo passado e de ter sofrido muito, comecei a descobrir que não estava certa. Afinal a vida era dele, sempre que dava noticias, dizia estar feliz. Que mais podia eu fazer se não viver a minha vida enfrentando os meus fantasmas, sem descuidar as coisas boas que a vida ainda tinha? - Como eu gosto de si tia Oliana. - Anima-te filha, ainda és muito nova, nunca deixes de sonhar. O sonho está dentro de nós, deixa-nos sentir que o vento nem sempre se manifesta com dureza e sim numa brisa suave. Marinela encaminhou-se para a janela e disse: - Venha à janela tia Oliana, as estrelas ainda cobrem o céu!...

 

Nota: Esta história foi escrita pela senhora que me pôs no mundo e que desde sempre me ensinou que o sonho nos mantêm vivos e acordados. Um obrigada muito grande para ela.

 

Maria Lua

 

publicado por MariaLua às 02:28