Olá amigos! Aqui ficam os meus mais singelos votos de Natal em forma de conto! Tudo de bom para vós e: Feliz Ano Novo.
A vossa: Maria Lua
Conto de Natal de Sylvie Garroche
"A Marcha do Tempo"
Caminhava desde que o mundo é mundo
Mais longe ainda, um homem aproximou-se do velhinho. Tinha uns
quarenta anos mais ou menos, mas não tinha bom aspecto. Este homem tinha preparado a sua trouxa e preparava-se para partir para longe. Vendo o velhinho na sua estrada, disse para consigo:
Chegada a noite, passaram junto de uma cabana. O homem com a trouxa começava a sentir-se fatigado e propôs:
E os dias continuaram o seu curso; o velhinho caminhava sempre. Apesar do seu ar vagabundo, inspirava respeito àqueles que encontrava. Frequentemente, quando passava perto de um casa por volta do meio-dia, as mulheres interpelavam-no:
Uma noite em que caminhava sem parar, pareceu-lhe que o céu estava mais claro do que de costume e que o ar tinha um sabor diferente. Endireitou as costas para respirar a plenos pulmões e sentiu-se alegre sem saber porquê. Três pássaros esvoaçaram à sua volta chilreando ao mesmo tempo, como para lhe anunciar alguma coisa. Ao longo do caminho, viu que as flores se tinham esquecido de fechar a corola com a noite. Elas abriam as pétalas e ofereciam o coração à carícia da lua. Como era bom caminhar naquela noite!
Depois, levantando a cabeça, o velhinho notou no céu uma estrela que não conhecia. Desde que caminhava, tinha já contado e recontado todas as estrelas: aquela, tinha a certeza de nunca a ter visto. E como era bonita, aquela nova estrela, que brilhava com mil luzes sem encandear os olhos! O velhinho fixou nela o seu olhar. A estrela avançava suavemente e seguiu-a sem quase se dar conta disso.
Teve a impressão de também sentir a respiração da noite, uma brisa suave que invadia o silêncio. Era mesmo uma música, que tinha começado como um sussurro e que se aumentava agora, envolvendo a terra com um manto de cânticos e notas.
Num cruzamento de caminhos, três homens que caminhavam com um passo decidido juntaram-se a ele. Um pouco mais à frente havia um outro grupo. O velhinho distinguiu entre eles vozes de mulheres e de crianças.
E ouviu descer um rebanho de uma colina, fazendo tilintar as campainhas e ressoar os chamamentos dos pastores. No entanto, àquela hora deveria dormir-se. Que faziam eles, naquela noite, caminhando todos na mesma direcção?
- Onde ides? - perguntou o velhinho.
- Nasceu o Salvador. Vamos adorá-lo - responderam-lhe de todos os lados.
Era então isso! Chegavam agora pessoas de todos os lados. O velho juntou-se à multidão dos primeiros peregrinos que tinham chegado das colinas e a música do céu ritmou o barulho dos seus passos.
De seguida, na parte debaixo de uma pequena colina, descobriram uma pobre gruta. A estrela tinha parado por cima dela e inundava-a com uma luz suave. Um a um os pastores correram para a porta. O tempo compreendeu que era para chegar ali que caminhava há séculos. Como os pastores que o rodeavam, também ele, pela primeira vez na sua longa, longa vida, parou.
Não se passou nada de extraordinário. O Menino estava lá, entre José e Maria, e os seus grandes olhos abertos acolhiam cada um dos que entravam com uma infinita doçura. Todos se ajoelharam. Cada um apresentou-se, na sua vez. Muitos tinham trazido presentes: pequenos objectos cheios de amor que tinham escolhido com toda a ternura do seu coração.
Quando chegou a vez do velhinho se apresentar, mostrou as suas mãos vazias.
- Não tenho nada para oferecer, disse. Eu sou o Tempo, mas este Tempo eu dou-to.
O Tempo prostrou-se por terra. Maria veio pousar a mão no seu ombro.
- Também tu, caro velhinho, vais receber um presente - disse-lhe ela. Doravante, terás o poder de parar a tua marcha sempre que isso for necessário.
- Como é que eu saberei que esse momento de parar é chegado? Perguntou-lhe o velhinho.
- O teu coração to dirá.
E foi tudo. Depois dele, um pastor ofereceu-lhe um cordeiro recém-nascido e uma menina cantou a mais bela canção que conhecia. Pela pequena porta estavam sempre a entrar novos visitantes. Não se pode dizer quanto tempo tudo isto durou. Parecia que o tempo já não existia. E é verdade que tinha parado e que olhava maravilhado a festa que decorria à sua volta.
Foi o último a partir. Mas quando se levantou, já não era um velhinho como até ali: retomara o aspecto de um jovem, na força da idade. Ao deixar a gruta e ao retomar o seu caminho, fechou os olhos por alguns instantes para contemplar dentro de si este momento tão belo que acabava de viver. Depois, abriu-os e a terra parecia-lhe diferente da que ele conhecia. Ou melhor, seria ele que tinha mudado?
Mais tarde, já em pleno dia, caminhando com um passo suave sob o sol, encontrou uma velhinha carregando lenha. O molho tinha um aspecto pesado para ela que caminhava com dificuldade. A carga era da sua altura e, de repente, toda a lenha caiu e se espalhou pelo chão. Imediatamente uma vozinha infiltrou-se no coração do Tempo:
Pára - sussurrava-lhe a voz, e o Tempo parou.
- O molho é grande e pesado para uma mulher tão frágil como a senhora - disse o Tempo. Deixe-me ajudá-la!
À vista do olhar de agradecimento da mulher, ele apanhou os paus de lenha e carregou-os aos seus ombros.
- Onde vamos agora? - Perguntou o tempo num tom alegre. E acompanhou-a até à sua casa.
Para lhe agradecer, ela quis retê-lo e oferecer-lhe alguma coisa. Mas ele recusou a oferta.
- Desta vez eu devo partir - disse o Tempo, e fez-lhe um grande sorriso que lhe aqueceu o coração para todo o dia.
Depois, ele continuou a sua marcha muito feliz. Sentia-se mais leve que o ar e mais luminoso que a luz.
E é desde esse dia que, como certamente já adivinharam,
o Tempo pára quando se ama.