Olá amigos! Hoje tenho uma tarefa para vos propôr! Começando com o titulo deste Post ("SE EU PUDESSE...") acrescentem o que quiserem e escrevam-no nos comentários. Boa inspiração!!!!! Maria Lua
Olá amigos! Hoje tenho uma tarefa para vos propôr! Começando com o titulo deste Post ("SE EU PUDESSE...") acrescentem o que quiserem e escrevam-no nos comentários. Boa inspiração!!!!! Maria Lua
Há muitos anos, no tempo em que o teu pai andava na escola, num país muito distante vivia um povo infeliz e solitário, vergado sob o peso de uma misteriosa tristeza. O céu era alto e azul, os campos férteis, o mar e os rios cheios de peixes e de vida, as cidades quentes e luminosas, mas as pessoas que passavam entreolhavam-se com olhos tristes, caminhando apressadamente e sumindo-se dentro das casas; e quando se encontravam umas com as outras, nos cafés, nos empregos, na rua, falavam baixo, como se alguma coisa, um segredo terrível, as amedrontasse. Quem, vindo de outras terras, chegava ao Pais das Pessoas Tristes, não compreendia. As pessoas eram boas e afectuosas, e aparentemente só tinham motivos para ser felizes. Mas quando lhes faziam perguntas, as pessoas afastavam-se e não respondiam, ou mudavam delicadamente de assunto pedindo desculpa. (...)
Manuel António Pina in O Tesouro, Associação 25 de Abril
Existe sempre um momento de SOL nas palavras e um dia ele veio em forma de ASAS. Vamos CURTI-LO ???
Beijos para todos! Maria Lua
Era uma vez um lugar qualquer, um reino imaginado (...) Nele vivia um mágico, grande, nobre e bondoso... com todos os atributos normalmente existentes nos livros infantis... mas apesar de ser tão bondoso, não tinha ninguém com quem dividir isso... não tinha ninguém a quem pudesse dedicar a sua afeição, ou pensar nele... também ele precisava de se sentir querido, pois é muito triste estar-se sozinho. Precisava de um amigo. O que deveria fazer? Pensou que talvez pudesse fazer uma pedra, uma bem pequenina, mas bela, e talvez fosse essa a resposta. "Eu vou acariciar a pedra e sentir que existe alguma coisa constantemente ao meu lado, e iremos sentir-nos bem os dois, pois é muito triste estar-se sozinho". Agitou a sua varinha mágica, e num instante apareceu uma pedra, exactamente como ele queria. Começou a acariciá-la e a abraçá-la, mas a pedra não respondeu. Permaneceu fria, sem reagir. A pedra permanecia sempre aquele objecto sem sentimentos, fizesse-lhe ele o que fizesse. Isto não agradou ao mágico. Como podia a pedra não lhe responder? Tentou criar mais algumas pedras: rochas, colinas, montanhas, solo, a Terra, a Lua e a Galáxia. Mas elas eram todas iguais... nada! Sentiu-se triste e completamente sozinho. Na sua tristeza, pensou que em vez de pedras, poderia criar uma planta que iria florescer muito bela. Ele iria dar-lhe água, algum ar, algum sol, e tocar música para ela... e a planta iria ser feliz. E então ambos ficariam contentes, pois é muito triste estar-se sozinho. Agitou a sua varinha mágica, e num instante apareceu uma planta, exactamente como ele queria. Ele ficou feliz, tão feliz que começou a dançar à sua volta, mas a planta não se movia; ela não dançava com ele ou seguia seus movimentos. Ela só respondia ao que o mágico lhe dava nos mais simples termos. Se ele lhe dava água, ela crescia, e se ele não o fazia, ela morria. Isso não era suficiente para um mágico tão bondoso, que queria dar todo o seu coração. Tinha que fazer algo mais, pois é muito triste estar-se sozinho. Criou então todos os tipos de plantas, de todos os tamanhos possíveis, campos, florestas, pomares, plantações e bosques. Mas todos eles se comportavam da mesma forma que a primeira planta. E novamente ele ficou sozinho com a sua tristeza. O mágico pensou e pensou. Que deveria fazer? Criar um animal! Que tipo de animal? Um cão? Sim, um belo e pequeno cão que estaria constantemente ao seu lado. Ele leva-lo-ia a passear, e o cão iria pular, saltar e correr junto dele. Quando ele voltasse ao seu castelo, o cão estaria tão agradecido em vê-lo, que iria a correr saudá-lo. E ambos então seriam felizes, pois é muito triste estar-se sozinho. Agitou a sua varinha mágica, e num instante havia lá um cão, exactamente como que ele queria. Ele começou a cuidar do cão, alimentou-o, deu-lhe de beber, e acariciou-o. Mas o amor de um cão resume-se a estar perto do seu dono, onde quer que ele esteja. O mágico ficou triste em ver que o cão não podia retribuir completamente os seus sentimentos, mesmo brincando com ele tão agradavelmente, ou que o levasse a todos os lugares. O cão não podia ser seu verdadeiro amigo, não podia apreciar aquilo que ele fazia por ele, não compreendia os seus pensamentos, desejos e quanto trabalho isso tudo lhe deu. Mas era isso que o mágico queria. Fez então outras criaturas: peixes, aves, mamíferos, porém tudo em vão pois nenhum deles o entendia. Era muito triste estar sozinho. O mágico sentou-se e pensou. Então compreendeu que, para ter um verdadeiro amigo, deveria ser alguém que o procurasse, que o estimasse, e que fosse como ele: capaz de SENTIR e entender como ele, sendo seu companheiro. Teria de ser alguém que estivesse próximo dele, que entendesse o que ele lhe dava, e que pudesse retribuir todas as suas dádivas. O Mágico queria ser compreendido. E ambos então seriam felizes. O mágico pensou então em criar o homem. Ele poderia ser seu verdadeiro amigo! Ele poderia ser como ele... aí, os dois iriam sentir-se bem, mas para que eles se sentissem bem, ele primeiramente teria que sentir-se só, teria de estar sozinho. O mágico agitou a sua varinha mágica novamente, e fez um homem, distantemente. Mas o homem não conseguiu ver o mágico, e este por outro lado, continuou a sentir-se triste por estar sozinho. O homem nem sabia que o mágico existia, e que ele o havia inventado e que estava à sua espera, para que juntos e amigos pudessem sentir-se bem, pois é muito triste estar-se sozinho. Mas como iria o homem, que estava contente, que tinha tudo, até um computador e uma bola de futebol, e que não conhecia o mágico, querer vê-lo, conhecê-lo, aproximar-se dele, e ser seu amigo? Então o mágico agitou a sua varinha mais uma vez, e o homem o sentiu pela primeira vez a solidão. Mais um agitar da varinha mágica, e o homem sentiu que precisava de um amigo. Mas como poderia ele alcançá-lo? Qual é o caminho? Perguntou a si mesmo contrariado e confuso. E continuou a sentir o toque da varinha no seu coração, e não pode dormir. Via constantemente mágicos e torres mágicas de amizade, e não conseguia sequer comer. Isso é o que acontece quando uma pessoa quer algo muito intensamente, e não consegue encontrá-la. Mas para sentir como o mágico: sábio, grande, nobre, bondoso, e amigo, um agitar de varinha não era suficiente; o homem precisava aprender a fazer milagres por si só. Um dia o mágico e o homem conheceram-se. Então, o mágico, secreta e subtilmente, mostrou-lhe o caminho até à Torre Mágica da amizade. Mas porque sempre vivera de coisas materiais, o homem não sentiu para ele o mágico era apenas mais um mágico Os encontros sucederam-se e com o tempo o homem compreendeu que para se ser amigo existe uma palavra mágica: «CATIVAR». Só que essa palavra tem a forma de um muro muito alto à volta da torre, e ultrapassa-lo é difícil. E então, o homem começou pouco a pouco a tentar subi-la (claro que o mágico nesta altura lhe começou a dificultar a subida pois não queria estar com alguém que não fosse mesmo AMIGO) Um dia quando o homem não podia mais suportar estar sem ele, os portões da torre abriram-se. Mágico e homem tornaram-se amigos de verdade, e não há prazer maior que aquele entre amigos. Conta a lenda que hoje passados muitos anos e já muito velhinhos sentem-se tão bem juntos, que jamais se lembram, nem ocasionalmente, o quão triste foi estar sozinho...
Rav Michael (adaptação)
Graças a Deus a Tal MARIA já está melhor... :) (talvez por ter tido tanta gente "bonita" a torcer por ela ...) quanto a mim tenho uma sorte danada em ter encontrado pessoas como vocês que mesmo "sem tocar" dá para sentir (...) OBRIGADA PELA FORÇA!!! O poema que junto transcrevo é para vós with all my heart! Bem hajam.
Maria Lua
"Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado. Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos, com os livros atrás a arder para toda a eternidade. Não os chamo, e eles voltam-se profundamente Dentro do fogo. -Temos um talento doloroso e obscuro. Construímos um lugar de silêncio. De paixão."
(Herberto Helder)
NOTA DE EDIÇÃO: Esta noite estou triste a vida sabe-me a pão seco (...) a tal Avó de que falo num dos meus primeiros posts (Lágrimas e Estrelas) está doente. Fui vê-la agora ao hospital. Apesar dos seus noventa anos continua a manter viva dentro de si a menina que já foi. Devo-lhe toda a herança de contadora de histórias. (Ela é a melhor contadora de Histórias que conheço e se hoje trabalho nisso devo-o primordialmente a ela!) A minha querida a minha Maria (...). Por isso hoje doeu-me ver o seu corpo a sofrer enquanto os seus olhos me falaram de esperança e de amanhãs floridos. Boas melhoras avozinha.
Maria Lua
"Eu queria que a vida fosse dividida em quatro estágios, mas que não acabasse nunca. A infância é como a primavera. É pura novidade e tem um calor que não sufoca nem faz pensar asneiras. Tem uma inocência quase pirosa, uma singeleza clássica, e traz no íntimo a certeza de que pela frente vem ai algo de bom. Queremos que passe logo, mas sabemos que nunca mais seremos tão protegidos, a mordomia não será eterna. É quando as coisas acontecem pela primeira vez, é quando num arbusto verde vemos surgir alguns vermelhos, é a surpresa, a primeira de uma série. A adolescência é como o verão. Quente, petulante, libidinosa. Parece que não vai haver tempo para fazer tudo o que se quer e o que se teme. É musical e fotogénica. Dúvidas, dúvidas, dúvidas em frente ao mar. Mergulha-se no profundo e no raso. Pouca roupa, poucas asneiras. Curiosidade. Vontade que dure para sempre, certeza de que passa. Noção do corpo. Festas e religião. Amor e fé. A maturidade é como o outono. Um longo e instável Outono, que alterna dias quentes e frios, que nos emociona e nos constipa. Há mais beleza e o ar é mais seco, porém é quando se colhem os melhores abraços. Ficar sozinho passa a não ser tão aterrorizante. Fugimos para a praia, fugimos para a serra, as ideias aprendem a movimentar-se, a fazer a mala rápido, a mudar de rota se o desejo se impuser, e não é preciso consultar o pai e a mãe antes de errar. É o outono que tentamos conservar. O Inverno é como a velhice. Tem a sua beleza igualmente, exige lã, bolsa de água quente, termómetro e uma janela bem vedada. O que não queremos que entre? Maus presságios. O inverno é frio como a despedida de um grande amor, mas sabemos que tudo voltará a ser ameno. Queremos que passe, temos medo que termine. Ficar sozinho volta a ser aterrorizante. O inverno é branco, é cinzento, é prateado. É grisalho. E, de repente, também passa. Eu queria que tudo fosse verdade, que a vida fosse assim dividida em quatro estágios que mais parecem estações do ano, mas que não acabasse, que depois do inverno viesse outra primavera, e outro verão, e outro outono, que nunca são iguais, mas que se repetem sempre, voltam sempre, são tão certos quanto o sol e a lua, todos os dias, todas as noites. Eu queria..."
( Martha Medeiros)
Nota da Editora: Li isto algures e achei tão lindo que decidi partilhar convosco. (Bem haja a quem escreveu. É porque detém de um coração cheio de poesia e de sorrisos Primaveris)
Bons sonhos!
Maria Lua
"Dizem que existe uma rainha que mora numa torre de gelo e arame, na Lua. Naquele pedaço de luz fantoche, sustentado por estrelas. Diverte-se a subir e descer um corrimão de ferro só para sentir saudades do vento, e ondular de vida o vestido de seda índigo até se sentir acompanhada. Depois desprende os lábios do beijo do silêncio e espanta-se com o grito ténue do vácuo. Permanece como sereia estelar até os braços poisarem em conformismo sobre o seu vestido...Depois sente-se criança cansada de ser criança, sente-se deusa cansada de ser mulher e sente-se mulher cansada de ser rainha. Sobe as escadarias à velocidade de Saturno e esgueira-se até não mais ver, para dentro da torre de vidro"...
Nunca conseguiu viver longe do mar. A sua adolescência ficara cheia de dunas e de camarinhas, de falésias e águias, de tempestades, de nomes de barcos e de peixes; de aves e de luz coalhada à roda duma ilha. Conhecera a ansiedade daqueles que, ao entardecer, olham meio cegos a vastidão incendiada do oceano e ninguém sabe se esperam alguma coisa, alguma revelação, ou se estão ali sentados, apenas, para morrer. Aprendera, também, que o mar, aquele mar tarde ou cedo só existiria dentro de si: como uma dor afiada, como um vestígio qualquer a que nos agarramos para suportar a melancólica travessia do mundo. Depois, partiu para longe. E durante anos recordou, em sonhos, o mar avistado pela última vez ao fundo das ruas. Procurou-o sempre por onde andou, obsessivamente mas nunca chegou a encontrá-lo. Certa noite de bruma fria, em Antuérpia, no "Zanzibar", julgou ouvir o mar que perdera na voz dum jovem marinheiro grego. Mas não, o barulho que aquela voz derramava, junto à sua orelha, era de outro mar fechado, calmo propício aos amores inquietos e à lassidão embriagante do sol e do vinho. Anos mais tarde, em Delos, haveria de reconhecer a voz do marinheiro no rebentar das ondas, em redor da ilha, como um eco: "onde te vi despir regresso agora / para adormecer ou chorar" e a noite caiu subitamente sobre ele, sobre a ilha e sobre o sonolento coração das leoas em pedra. Uma outra vez, perto de Gibraltar, uma mulher idosa quis ler-lhe as linhas emaranhadas da mão. Já não se lembra o que lhe contou a mulher, acerca da vida e dos rumos da paixão. Recorda somente o que ela lhe disse ao separarem-se: - Tens nos olhos a cor triste do mar que perdeste. E passou bastante tempo antes que o homem voltasse ao seu país. Quando o fez, foi ao encontro do mar. Largou a cidade e os amigos, a casa, o conforto, a noite, o trabalho e tudo o mais. Viajou em direcção ao sul, com a certeza de que jamais encontraria o mar perdido, em lugar incerto, a meio da sua vida. Sabia agora que nenhum mar existia fora do seu corpo, e que tinha sido na perda irremediável de um mar que adquirira um outro onde, por noites de inquietante insónia, podia encontrar-se consigo mesmo e envelhecer sem sobressaltos; afastado da vã alegria dos homens e da pobreza do mundo. Ao chegar junto do mar sentou-se no cimo da duna, como dantes, e esperou. Esperou que o mar guardado no fundo de si transbordasse, e fosse ao encontro daquele que perdera e se espraiava agora à sua frente. Ainda hoje permanece sentado, no mesmo lugar esperando o instante em que os dois mares se dissiparão um no outro, para sempre. Está cansado da guerra com as palavras e do veneno dos homens, tem os olhos queimados pelo sal. Os dedos adquiriram a rugosidade da areia e dos rochedos; da sua boca solta-se um marulhar surdo, muito antigo, que os dias e a solidão arrastam devagar para a luminosa euforia das águas. Nunca mais o lembraremos Um dia, em frente ao mar, ele pensou: Se me apagasse neste preciso instante, o mundo pouco se importaria com isso. No entanto, deixaria de ser o mesmo: seria um mundo com todas as coisas que conheci e toquei, mas sem mim. E eu, algures na morte, é pouco provável que levasse comigo alguma coisa do mundo. Seria um homem morto, sem mundo, definitivamente só. Depois, não lhe agradou saber que o mundo, apesar da sua morte, conservaria por muito tempo os vestígios da sua passagem. Desejou, uma vez mais, que tudo o que escrevera até àquele instante se apagasse também, e que do seu nome não restasse uma sílaba. Pensou em tudo isto sem amargura, porque havia nele dois mistérios insolúveis: viver e escrever. E ambos estavam tão intimamente ligados que, provavelmente, se conseguisse desvendar um deles, o outro sê-lo-ia também. Mas acontece que tinha tentado fazer da sua vida uma obra tão intensa quanto a obra escrita. Por vezes diluíam-se uma na outra, confundiam-se, tão próximas ou afastadas estavam. E tanto na vida como na escrita, um mesmo desejo o animava: caminhar em direcção à sabedoria última do silêncio a memória total do mundo. O pior é que sempre que avançava alguns passos na direcção certa, desiludia-se. A harmonia com o mundo e com o seu próprio corpo continuava inacessível; e outras ignorâncias surgiam, outras trevas o cegavam. O que parecia estar perto, repentinamente, ficava fora do alcance. Apesar de tudo, com o avançar lento da idade pressentia, algures dentro de si, um ser de lume um anjo mudo que o iluminava, revelando-lhe aquilo que devia ou não silenciar. E quando esse ser o fazia sentir árvore ou pássaro, todo o talendo da árvore e o nocturno voo do pássaro escorriam em si. E se a sensação de mar lhe era transmitida, ele sabia que era um mar muito mais remoto e vasto que aquele que diante de si se movia. Respirava fundo, tinha medo, e escrevia como uma condenação e nessa condenação encontrava um breve alívio para a dor das coisas vivas e mortas que o rodeavam. E o corpo, sempre apaixonado, tremeluzia quando o estranho anjo mudo lhe punha uma voz no coração. Talvez seja por tudo isto que um dia nunca mais o lembraremos, nunca mais. Mas neste preciso instante ele acabou de acordar, abre os olhos, arde, é jovem ainda, e diz-me a sorrir: - Aqui tens o inocente revólver para a eternidade.
Al Berto, "O Esconderijo do Homem Triste", O Anjo Mudo, Contexto, Lisboa 1993, pp. 42-45